segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Segredo de Brokeback Mountain


Venho por meio desta (que antigo, isso) tentar explicar para vós, leitores, o porquê de este humilde editor que vos fala não achar O Segredo de Brokeback Mountain uma obra-prima. O que acontece é o seguinte: não é de hoje que eu posto listas aqui no blog e sempre acabo deixando este filme de Ang Lee de fora, para a tristeza e/ou raiva de alguns. O filme foi tido como um dos mais belos, ousados e sensíveis materiais desta nossa década e acabou fazendo a cabeça dos críticos. Perdeu o Oscar de Melhor Filme para o irregular e ruim (que me perdoe a Kamila, hahahahaha) Crash – No Limite, mas saiu com a estatueta de Melhor Direção. Interessante vencer esta categoria, pois a temática é tida como um tabu e é tratada como sendo exatamente isso no filme. Espero não ser deletado de alguns blogs parceiros após este texto...

Livremente baseado na estória de Annie Proulx (adaptada por Larry McMurtry e Diana Ossana), a fita mostra a vida de Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal): dois jovens cowboys que se conhecem no ano de 1963 após passarem alguns dias cuidando das ovelhas de um senhor na Montanha Brokeback. O isolamento foi o ambiente propício para que algo de inesperado acontecesse com esses dois homenzarrões: de forma súbita – e levem este “súbito” num sentido agressivo – eles sentem-se atraídos e se entregam ao desejo. Ennis e Jack se apaixonam? O roteiro o tempo todo ilude o espectador e responde que sim. Após retornarem às suas vidas normais, cada qual segue o seu caminho. Ennis casa-se com Alma (Michelle Williams) e Jack com Lureen (Anne Hathaway) e cada um constrói suas famílias de modo aparentemente vazio. Ang Lee – que volta ao “nicho da sensibilidade” onde esteve com o irretocável Razão e Sensibilidade – introduz à vida em família dos dois cowboys uma pitada de frustração, já que ao que parece, Jack e Ennis seriam felizes juntos e não com suas respectivas esposas. Quando tudo parece se encaixar (após o reencontro dos dois), algo interessante e triste ocorre para finalizar a fita de forma impactante.

Não tenho problemas com esta resolução dada a história no desfecho, e até acho-a interessante. O Segredo de Brokeback Mountain cutuca onça com vara curta e escracha a relação entre dois homens em plenos anos 60. Uma época em que homens eram criados para serem machos, brutamontes. Só que “pera lá”! Garanto que tudo seria muito mais válido e digno se direção e roteiro convergissem para o sensível, uma vez que a história em si é pesada. Não, eu não consigo absorver nem 1% de sensibilidade e delicadeza neste filme por que não há. Vou citar um SPOILER e recomendo que os que não viram o filme, pulem esta parte. O primeiro contato íntimo entre Jack e Ennis, lembram? Ali, no frio, após se embebedarem, na barraca... Pois bem. Aquilo, pra mim, foi algo absurdamente carnal e nada romântico e que em hipótese alguma pode ser o estopim para o começo de uma história de amor (FIM DO SPOILER). Na realidade, sinto que tudo o que se passa na película não pende ao amor, mas sim à paixão. Amor é você ir contra todos em busca da felicidade mútua, independente da época em que está. Amor não é ferir sentimentos alheios vivendo de mentiras e, pior, de traições. Onde diabos eu quero chegar? Simples: Brokeback Mountain, filme aclamado de Ang Lee, não é um romance. É um drama, frio, sobre dois homens que sentem atração um pelo outro e que tentam enfrentar isso numa sociedade machista antiga. Frio, gelado.

Uau, que massacre. Bom, mas nem tudo é errado no filme. A parte técnica e o trabalho das atrizes coadjuvantes chegam como sendo o ar fresco de que eu necessitava quando o assisti. Como estamos quase que o tempo todo em campo aberto, a iluminação natural contribui para um belo trabalho de fotografia. Além disso, Rodrigo Prieto (responsável também pela impressionante fotografia de 21 Gramas) utiliza as paisagens de relevo e planície para melhorar ainda mais seu genuíno trabalho. Apesar de não se encaixar bem no filme por ser muito melódica, gosto da composição sonora de Gustavo Santaolalla, mesmo utilizando, como sempre, os instrumentos de corda como base em suas trilhas. Aqui, vamos à segunda parte do meu pequeno massacre: comentário sobre o elenco. Heath Ledger, que Deus o tenha, vai bem, mas nada de estarrecedor e que merecesse alguma indicação em algum prêmio. É uma atuação que oscila entre o normal e o contido e me irritava o jeito que Ennis falava. Com Jake Gyllenhaal o caso é mais grave. Desde que vi o filme, disse e repito que trocaria fácil ele por outro ator (Ryan Gosling, por que não?). Ele não tem expressão e quase desaparece quando está em cena com sua esposa na trama, interpretada por Anne Hathaway. Ela e Michelle Williams são magníficas em papéis secundários e esbanjam talento, emoção e ousadia. Não vou nem finalizar meu texto com alguma conclusão coerente e oficial. Paro por aqui e só peço que se alguém quiser me matar depois disso, pelo menos me avisem antes de o fazê-lo!


Nota: 6,0


Informações sobre o filme, clique aqui.

22 comentários:

  1. Nossa, é uma raridade ver alguém falando o que eu penso sobre esse filme. Também acho extremamente superestimado. O novo do Ang Lee, DESEJO E PERIGO, é muito superior.

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  2. Kau, vou discordar de você em relação a este filme. Acho que o maior mérito de Ang Lee foi tratar esta história com muito respeito. O que vemos em tela é uma história de amor!

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  3. Considero que Ang Lee acertou em cheio na forma de contar esta história de amor extremamente bruto e proibido. Os dois atores principais estão perfeitos na composição dos personagens atormentados pelo seus sentimentos.

    Um grande drama.

    Abraço

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  4. Também não vejo nada demais nesse filme!
    Nem no lado técnico e nem no que se refere ao roteiro. Enxerguei em cena uma atração física, uma "curiosidade" que ambos botaram em prática. Em momento algum vi uma história de amor...

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  5. Pois eu discordo veeeeementemente de você, rs. Acho o filme lindo, com uma fotografia perfeita e falando do tema de uma forma jamais falada no cinema. Não acho o encontro extremamente carnal (não vejo nada de errado em sexo brutal, sexo brutal não significa apenas putaria, rs), além do que às vezes eles nem se gostavam tanto, mas encontrar em alguém o que eles encontravam em si mesmo (naquela época... e hoje tb)deveria ser algo confortante demais para querer desistir daquela paixão... Sei lá, eu acho o filme lindo, sensível e me põe MUITO pra baixo cada ve que ovejo...

    Abraços...

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  6. Devo dizer que discordo bastante. Gostei muito do filme, achei que foi tratado com a sensibilidade que merecia e praticamente tudo funciona com eficiência. A fotografia é uma das mais bonitas e conseguiu mostrar uma relação entre dois homens sem chocar nem mesmo os mais moralistas.
    O único ponto em que concordo é a tal cena de sexo; acheia-a incoerente, de uma selvageria que não cabia naquele momento. Acima, o Nespoli disse implicitamente que sexo brutal pode significar amor também; não discordo do argumento, mas aquela cena realmente não coube no filme e, portanto, concordo com você, Kau.
    Heath Ledger está muito bem e Jake Gyllenhall também. As atrizes coadjuvantes realmente estão grandiosas e apreciei bastante os seus trabalhos, principalmente o de Michelle Williams.

    Kau, já assistiu Assunto de Meninas?
    Se assistiu, peço que o resenhe aqui. Gostaria de ver sua opinião...

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  7. Kau,
    também não gostei muito do filme, mas achei bonito, corajoso e atual! Os dois fizeram bem seus papéis, mas não gostei do final! Mas pelo conjunto da obra foi legal!!!

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  8. Kau, entendo sua opinião. Gosto bastante do filme, principalmente na parte técnica e no trabalho de direção, mas o meu favorito para ganhar o Oscar naquele ano não é nem esse, nem "Crash", era "Boa Noite e Boa Sorte".

    Beijos! ;)

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  9. Redescobri O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN recentemente. Tinha mais ou menos a tua opinião. Mas mudei. Percebi que não tinha percebido a sensibilidade do argumento e da realização.

    Um filme deslumbrante, apaixonante e profundamente belo. 5*

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  10. Acho que, pela primeira vez, não concordei com 90% do que você escreveu. Acho que é uma obra que mostra o tema da homossexualidade com EXTREMA sensibilidade, possui uma visão DURA sobre como o mundo encherga a homossexualidade, como ela se torna tabu em um tempo em que ninguém compreendia.

    Sobre o primeiro encontro, é perceptível que os personagens foram atraídos por sí mesmos por GRANDE desejo. Sim, carnal. Pois o ser humano é movido pelos seus desejos carnais da mesma forma que os mais emocionais. O maravailhoso do filme, é ver como estas duas figuras lidam com suas próprias falhas e se apaixonam um pelo o outro contra todos os questionamentos. O desejo carnal os uniu, mas o amor os transformou. Acho que o maravilhoso mesmo do filme é retratar o AMOR sem pudores. Ele é duro, realista e cru. Seus personagens sofrem e cometem erros como pessoas apaixonadas.

    Não adianta Kau, eu AMO este filme, e abomino sua opinião, rsrsrsrsrsrsrs. Mas que bom que finalmente saiu seu texto para me compreender sua visão.

    Abraço! (e sem ressentimentos, HAHAHAHAHA)

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  11. Achei um filme sensível e intenso!
    mas, gosto é gosto!

    abraço, sumido!

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  12. Também estou a discordar literalmente!
    Ok. OBRA-PRIMA do Cinema pra mim, sabe aquele filme que te inspira ao cinema? Foi este. O Mérito e total de Ang Lee, e ao contrario de você Kau, eu particularmente absorvo uma grande sensibilidade em grande parte das cenas, mesmo que possam parecer 'brutas'. Tratado com o maior respeito e dignidade (não poderia ser menos) o filme é totalmente levado a sério. A academia deveria criar vergonha na cara ao não premiar tal ... Abraço Kau! ops ... NOTA 10,10 E 10!

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  13. Cara, acho um filmaço em todos os sentidos. Das interpretações até a condução da história pela câmera, tudo lindo.

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  14. Ah, não vamos matá-lo, Kau (embora você mereça por achar "Um Sonho de Liberdade" um filme "normal"). Discordo um pouquinho de sua análise quando você afirma que não se trata de uma história de amor. Bom, eu não tenho ideia de sua perspectiva sobre este sentimento, mas as pessoas amam de maneiras bem diferentes, ele não é só materializado por aquilo que consideramos como algo que ultrapassa qualquer mentira, preconceito, barreira ou seja lá o que for. Neste sentido, até me recordei de "Secretária", um filme que mostra o surgimento do amor através da humilhação, dos prazeres (e dores) carnais - como diria a Cleycianne, tá amarrado três vezes! XD.

    Voltando ao "Brokeback Montain", que até tenho a edição dupla na prateleira, é um bom filme. Mas tem uma coisa que me incomoda - e muito! O filme é focado somente em Ennis e Jack, mostrando de forma rasa as consequências desse "amor proibido" para os personagens coadjuvantes. Nem as mulheres deles, intepretadas por Anne e Michelle, e nem as filhas que tem rendem alguma parte de fato impactante ou devidamente importante em todo o filme. E eles ainda desperdiçaram a Anna Faris, olha só! :P E cá entre nós: [SPOILER] aposto que a Anne Hathaway pagou para matarem o Jack Twist!!!

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  15. Achei excelente esse filme do Lee, tratou do tema com muita maturidade, sem pieguice e com respeito, belo filme, q mereceu todos os prêmios e oba-oba da época do lançamento, gostei bastante. nota 9.0!
    Mas fique tranquilo q ñ irei te deletar da minha lista de blogs q acompanho..rsrs..
    Abs! Diego!

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  16. Kau,por onde começar.

    1º Acabo de conhecer seu blog e dei uma "passada" e gostei do que vi.

    2º Concordo em quase tudo com sua resenha. Acho Brockeback supervalorizado. Ang Lee fez coisas mais interessantes. Muita gente se pega nessa questão de relacionamento gay, mas existem filmes mais interessantes que tratam do mesmo tema, com mais ... estilo, na falta de uma palavra menos medíocre. Acho que o Lee tem filmes interessantes mas Brockeback não entraria numa lista de seus trabalhos mais interessantes.

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  17. Ora bem, eu não vi o filme por isso não posso comentar nesse respeito. Posso, no entanto, discordar da curta análise que fizeste ao Crash. Para mim é um filme brilhante e um justíssimo vencedor do Oscar no dito ano.

    Abraço

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  18. Uau. Eu adoro "Brokeback Mountain", Kau. A simplicidade que Ang Lee dirige o filme é simplesmente espetacular, sem contar com a atuação fantástica de Leadger e de todo o elenco também. Ok, ok... ver caras dessa faixa etária sendo gays na grande tela é até comum hj, quero ver Clint Eastwood, Jack Nickolson, Michael Cane tendo realacionamentos homossexuais. Isto eu chamaria de ousado. Abraço!

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  19. Sabia que os comentários seriam, em sua maioria, elogiando o filme. Adoro divergência de opiniões! Obrigado pelos comentários e pelas visitas!

    Abraço a todos!

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  20. Não sei se leu minha resenha sobre o filme, publicada há alguns meses, mas devo concordar quando diz que Ang Lee construiu o filme de maneira ruim. Acho que o personagem de Jack Twist parece um maníaco sexual, e o filme (que deveria defender o romance) acaba sendo carnal demais. Só que há um grande mérito no primeiro ato deste filme: o amor entre os protagonistas é mostrado de maneira muito inocente, quase pueril, o que dá delicadeza e verossimilhança na proposta. Pena que a partir da segunda metade, muitas coisas percam a mão.
    Abraços!
    E estou de volta!

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  21. Este comentário foi removido pelo autor.

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  22. Bom... nem sei o que dizer! Depois de ler esses tantos depoimentos cheios de senseibilidade e sobretudo simplicidade, pode até parecer fácil tomar sua própria decisão, más enfim, tudo se mistura e acho que essa tarefa se torna mais difícil!

    Más vamos ao que enteressa! Acho que concordo "em parte" com o ponto de vista de todos. Brokeback Mountain é sim um exelente filme más acho que alguns pontos como a nescessidade que me foi transmitida pelo personagem Jack Twist pelo sexo não me mostra o AMOR que se cabia ao filme; o "amor' vivido entre os dois que até concordo que mais se assemelhava à uma paixão pela sua brutalidade, más como o proprio Kau relatou, os homens eram criados para serem frios e rígidos, e naquela cena do primeiro contato entre os dois ainda na Brokeback, acredito que não poderia ser mostrada de forma mais sensível e afetiva poís deve se levar em conta que este deveria ser o primeiro contato homosexual de Ennis, também a maneira com que os dois foram criados por seus pais e o medo do preconceito pela sociedade. A respeito dos atores, creio que fizeram um exelemte papel e souberam realmente viver tal história!

    Tem muito mais que poderia contar aqui, más acho que já falei d+, rsrs! E concordo sobretudo com tu Nespoli, você falou tudo o q penso sobre o filme e tb fico muit pra baixo toda vez que assisto ele!

    Abraços!! Adorei o BLOG.... VLW!

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