sábado, 5 de setembro de 2009

Confissões de Uma Garota de Programa


Se formos analisar alguns filmes da paradoxal filmografia de Steven Soderbergh, sempre encontraremos algo em comum entre seus filmes: a profundidade com a qual ele lida com o desenvolvimento de seus personagens. Na maioria das vezes – e isso não inclui filmes fracos como Sexo, Mentiras e Videotape e ruins como Full Frontal – Steven delineia cada personagem como se fossem únicos no enredo e, óbvio, isto é de se louvar. Outra marca registrada deste diretor é a quase que constante estilização visual que utiliza não só no modo de filmar, mas sim na disposição e inserção de cores nas fitas. Esta combinação deu certo no genial Traffic e no interessante Bubble. Mas quem se aventurar no seu novo filme, Confissões de Uma Garota de Programa, irá perceber que Soderbergh, de maneira triste e quase desastrosa, tropeça nas suas próprias facetas.

O filme, escrito por Brian Koppelman e David Levien, tem míseros 78 minutos e mostra cinco dias na vida de Chelsea (a atriz pornô Sasha Grey), uma garota de programa de luxo, que atende clientes da alta sociedade de Manhattan. Mas logo percebemos que o título original em inglês, The Girlfriend Experience, é muito mais válido, já que Sasha é uma espécie de namorada de aluguel, pois não só oferece sexo aos seus clientes, mas sim companheirismo e conversa. Com isso, ela sente que o mundo sempre dá voltas ao seu favor e tudo é ratificado pela presença de seu namorado que, de forma bastante intrínseca, não tem problemas com a vida profissional da moça. Mas é claro que este é um universo dito bittersweet por muitos, uma vez que ao mesmo tempo em que é ótimo por ser bem remunerado, é vulgar e, por vezes, perigoso. O que é válido perceber é que quando você está nesse tipo de nicho, conhece muitas pessoas e, por esse motivo, nunca sabe o que encontrará pela frente.

Num primeiro momento, a premissa pode trazer a sensação de ser um filme extremamente bem feito. Mas pensem que eu sequer citei os demais personagens do filme e isso é fácil de explicar: tudo é manipulado da forma mais fria e distante do espectador possível. Começamos sem conhecer Chelsea e terminamos exatamente da mesma maneira. Sei que às vezes é interessante sermos submetidos ao mistério acerca do personagem, mas como se trata de uma película quase que biográfica, este recurso “textual” é completamente inválido e utópico. Também se espera algo bastante suave e original durante os programas da moça, já que é uma espécie de consulta psicológica íntima; contudo, elas são nota zero em termos de emoção.

Steven, desta forma, falha o tempo todo na transposição do roteiro. E esta falha tange tudo, até a disposição de cenas. O único aspecto positivo é a sempre genial estilização visual que a câmera deste diretor propõe: juntamente com um belo trabalho fotográfico, a composição das cores e ângulos é quase caótica – claro, num ótimo sentido. Mas de que adianta algo visualmente deslumbrante se o essencial – o enredo – é parcialmente inexistente? E outra: o elenco é inerte. Sasha Grey não incomoda, mas é um pólipo em cena, o tempo todo com a mesma expressão facial. Exceto por uma cena, talvez a mais interessante do filme, em que mostra certa profundidade emocional. A idéia de querer mostrar a vida de uma garota de programa de luxo é batida, mas dependendo do modo como é exposta, poderia render algo válido. Os roteiristas erram, Steven erra (mesmo com belo trabalho técnico) e o elenco nem a capacidade de errar teve.


Nota: 4,5

Informações sobre o filme, clique aqui.

9 comentários:

  1. Oi Kau.Nossa, me deu vários motivos para passar longe desse filme, rs. E falando da Drew, coitada haha quem sabe ela não faça algo legalzinho. Abraço!

    http://nomundoagora.blogspot.com/
    http://nomundoagoraextra.blogspot.com/

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  2. Acho Soderbergh um dos mais geniais e inventivos diretores do cinema. Adoro como ele oscila seus trabalhos e sempre traz algo refrescante. Então, apesar das críticas duras, verei este novo dele com a mente aberta.

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  3. Eu gosto do Soderbergh e queria ver esse filme. Mas li tanta crítica ruim por aí que desanimei um bocado.
    Adicionei seu blog nos meus favoritos.

    Abs!

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  4. THIAGO, geralmente estréias na direção me deixam assustado. Mas veremos. Abs!

    WALLY, eu gosto de alguns filmes de Steven, mas este me deixou bastante triste. Contudo, você pode gostar.

    BRUNO, como disse ao Wally, pode ser que você goste. E eu tb adicionei o seu blog. Abs!

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  5. Nossa, estava com ótimas expectativas em relação a esse novo do Soderbergh, mas ultimamente tenho lido comentários não muito animadores. De qualquer forma quero ver...

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  6. Visualmente deslumbrante? Sério? Não achei não. Não gostei do filme, aliás. Quando o filme terminou, notei que tinha gostado três coisas: do namorado dela, da edição [o que chega a ser meio contraditório, já que não gostei do filme] e do final.

    []s!

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  7. Kau, este filme não faço a minima questão de ver, rsrsrsrs.

    Beijos! ;)

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  8. VINÍCIUS, exatamente. Assista por que às vezes o problema é comigo hahaha.

    JEFF, isso mesmo. Achei visualmente magnífico. As cores, os ângulos... tudo lindo. E páre de cantar o namorado da pobre Chelsea hahahaha. []s!

    MAYARA, por que? Hahahaha. Beijos!

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  9. Não gosto do cinema do Soderbergh, acho ele muito superestimado. Ainda não tive a chance de ver este, mas ele tem errado bastante em suas obras.

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