De vez em quando aparece algum filme que foi livremente baseado numa peça de teatro. Um dos exemplares mais atuais é o extraordinário Dúvida, no qual podemos ver um elenco forte inserido numa atmosfera bastante teatral. O mesmo é evidente na obra-prima atemporal chamada Uma Rua Chamada Pecado; mas ainda de forma mais escrachada, temos a impressão de estarmos numa platéia, assistindo tudo ao vivo. David Lindsay-Abaire escreveu uma peça chamada Rabbit Hole e ele próprio desenvolveu o seu formato cinematográfico e entregou para John Cameron Mitchell se empenhar na direção. No final das contas, o filme acompanha os dois exemplos citados e se faz teatral, alegórico e muito real.
Basicamente, o filme conta a história de um casal em completa crise após a trágica morte de seu filho. Pensamos, desde o começo, que roteirista e diretor colocariam a vida do casal como um todo em evidência, mas ao contrário disso, temos um conto individual de sentimentos. Além de tudo, esperamos ver muitas menções à ''toca de coelho'' de Alice no País das Maravilhas; entretanto (e obrigado David e John por isso), é tudo muito original e sutil. Nicole Kidman e Aaron Eckhart interpretam marido e mulher que, de formas diferentes, reconstroem suas vidas. Isto é, durante os 90 minutos de filme, vemos duas pessoas que precisam se auto-conhecer novamente, aprender a superar a perda e, principalmente, se integrar na sociedade. O final? Ahhhh, o final. Simples e condizente.
Tecnicamente, o filme não surpreende muito. A fotografia, assinada por Frank G. deMarco, é simples e comum - o que não entendi, uma vez que tal diretor já assinou de forma belíssima alguns planos visuais na perfeita série Mad Men. Muito se falou da trilha sonora composta por Anton Sanko e preciso dizer que, de fato, ela merece créditos por ser intensa e envolvente. O elenco de apoio é interessante e conta com Dianne Wiest, Sandra Oh e Tammy Blanchard. Mas o destaque vai para Nicole e Aaron: ambos muito dedicados e entregues aos seus personagens. Seria insano de minha parte não colocar Kidman em pauta, uma vez que, pra mim, ela está espetacular e até agora merece todas as menções que vem recebendo nas premiações. Rabbit Hole é, enfim, um filme simples, mas que torna-se comovente, sincero e real. Merece ser visto.
Nota: 8,5