sábado, 31 de outubro de 2009

Deixe Ela Entrar (só por que é Halloween!)


Convenhamos: vampiros são seres estranhos que na grande maioria das vezes rendem filmes e histórias que pendem totalmente ao terror. Ano passado, a febre literária adolescente virou filme; falo de Crepúsculo, um filme que apesar de ser vampiresco, é movido por um caso de romance e não de terror. Entretanto, foi a fita sueca Deixe Ela Entrar que mostrou ao mundo uma interessante história de amor em que vampiros estão em pauta. Além de tudo, o filme prima o tempo inteiro pelo inovador e pelo ousado, fazendo-se, sem pretensão, extremamente original. Na realidade, e já dando uma dica sobre o trabalho de direção, tal ousadia não se deve apenas ao roteiro (John Ajvide Lindqvist), mas também ao diretor Tomas Alfredson, que parece não dar a mínima para o público e simplesmente mostra, sem rodeios, o que deve ser mostrado.

Oskar (Kåre Hedebrant) é um garoto solitário e que vive acostumado a sofrer bulling na escola. Sua monótona e triste vida muda bruscamente quando conhece Eli (a magnífica Lina Leandersson), sua vizinha estranha. Pronto. Eli parecia ser o ar fresco que faltava na vida de Oskar mas, paradoxalmente, este frescor vem da forma mais sombria e complicada: ela é um vampiro. E não adianta tentar mudar o fato. Eli é pálida, fria e aparenta ter a mesma idade de Oskar. Sim, eu disse aparenta. Isso por que ao longo da reprodução, ficamos sabendo que na realidade, a garotinha é uma mulher presa num corpo “tamanho PP”. E esta revelação não é feita de forma clara, uma vez que existe um fator incógnita na história, representado pelo homem que mora com Eli. Ao passo que a amizade das crianças aumenta, Oskar começa a apaixonar-se pela garota e tudo é tratado da forma mais frágil e inocente quanto for possível.

Até aqui, parece que estamos diante apenas de mais um romance que se faz diferente por tratar de um casal bastante jovem. E é exatamente aqui que Alfredson lança mal de uma genialidade fora do convencional e ao passo que umedece seu filme com sensibilidade, também faz questão de deixá-lo nebuloso com cenas aterrorizantes. Afinal de contas, a protagonista é um vampiro, se alimenta de sangue e, logicamente, precisa caçar suas presas. Chegamos à outra bela sacada do diretor: fazer de Eli um ser angustiado por ser o que é. Percebemos que ela sente-se mal após mais uma noite de alimentação, mas mesmo assim não temos uma humanização, mas sim passagens que, mergulhadas no ser Eli, são uma espécie de exteriorização de sentimentos opostos. E toda essa gama de emoções pode ser exemplificada pela cena em que ela deita-se, nua, junto de Oskar, e num ato belíssimo aceita ser, simplesmente, a sua namoradinha (no sentido infantil da palavra).

Os artifícios usados na fotografia são semelhantes aos utilizados no fraco 30 Dias de Noite. Temos a utilização da neve, ou seja, de planos visuais brancos e/ou cinzentos para denotar a nebulosidade da história. E o interessante é que toda essa atmosfera alva acaba por colocar os personagens e suas expressões ainda mais em evidência. O garotinho que interpreta Oskar, Kåre Hedebrant, tem um futuro brilhante pela frente, mas não posso ser injusto e deixar de colocar Lina Leandersson (a Eli) num patamar acima. Que atuação extraordinária! Uma criança compor um vampiro como Lina o fez é algo quase que impensável, insano. E ela chegou como quem não quer nada e mostrou toda a força de uma jovem estrela nascente. Deixe Ela Entrar foi preterido pela Suécia no que diz respeito à escolha do país para tentar vaga no Oscar passado. Quem entrou no seu lugar foi o belo, mas problemático e clichê, Maria Larsson's Everlasting Moment. Acredito que aquela pequena obra-prima vampiresca poderia ter sido um pouco mais valorizada, uma vez que mostrou para Hollywood como fazer um romance moderno.


Nota: 9,5



Informações sobre o filme, clique aqui.

sábado, 17 de outubro de 2009

Década: Ator

Observação: me desculpem, eu dei uma sumida. E infelizmente vai ser assim pelo menos até Novembro. Espero que vocês entendam! Obrigado!

10. Tom Wilkinson em Entre Quatro Paredes




9. Rolf Lassgard em Depois do Casamento



8. Ben Kingsley em Casa de Areia e Névoa



7. Jack Nicholson em As Confissões de Schmidt




6. Paul Giamatti em Sideways - Entre Umas e Outras



5. Sean Penn em Uma Lição de Amor



4. Russel Crowe em Uma Mente Brilhante



3. Philip Seymour Hoffman em Capote



2. Daniel Day-Lewis em Sangue Negro



1. Bruno Ganz em A Queda! - As Últimas Horas de Hitler


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Segredo de Brokeback Mountain


Venho por meio desta (que antigo, isso) tentar explicar para vós, leitores, o porquê de este humilde editor que vos fala não achar O Segredo de Brokeback Mountain uma obra-prima. O que acontece é o seguinte: não é de hoje que eu posto listas aqui no blog e sempre acabo deixando este filme de Ang Lee de fora, para a tristeza e/ou raiva de alguns. O filme foi tido como um dos mais belos, ousados e sensíveis materiais desta nossa década e acabou fazendo a cabeça dos críticos. Perdeu o Oscar de Melhor Filme para o irregular e ruim (que me perdoe a Kamila, hahahahaha) Crash – No Limite, mas saiu com a estatueta de Melhor Direção. Interessante vencer esta categoria, pois a temática é tida como um tabu e é tratada como sendo exatamente isso no filme. Espero não ser deletado de alguns blogs parceiros após este texto...

Livremente baseado na estória de Annie Proulx (adaptada por Larry McMurtry e Diana Ossana), a fita mostra a vida de Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal): dois jovens cowboys que se conhecem no ano de 1963 após passarem alguns dias cuidando das ovelhas de um senhor na Montanha Brokeback. O isolamento foi o ambiente propício para que algo de inesperado acontecesse com esses dois homenzarrões: de forma súbita – e levem este “súbito” num sentido agressivo – eles sentem-se atraídos e se entregam ao desejo. Ennis e Jack se apaixonam? O roteiro o tempo todo ilude o espectador e responde que sim. Após retornarem às suas vidas normais, cada qual segue o seu caminho. Ennis casa-se com Alma (Michelle Williams) e Jack com Lureen (Anne Hathaway) e cada um constrói suas famílias de modo aparentemente vazio. Ang Lee – que volta ao “nicho da sensibilidade” onde esteve com o irretocável Razão e Sensibilidade – introduz à vida em família dos dois cowboys uma pitada de frustração, já que ao que parece, Jack e Ennis seriam felizes juntos e não com suas respectivas esposas. Quando tudo parece se encaixar (após o reencontro dos dois), algo interessante e triste ocorre para finalizar a fita de forma impactante.

Não tenho problemas com esta resolução dada a história no desfecho, e até acho-a interessante. O Segredo de Brokeback Mountain cutuca onça com vara curta e escracha a relação entre dois homens em plenos anos 60. Uma época em que homens eram criados para serem machos, brutamontes. Só que “pera lá”! Garanto que tudo seria muito mais válido e digno se direção e roteiro convergissem para o sensível, uma vez que a história em si é pesada. Não, eu não consigo absorver nem 1% de sensibilidade e delicadeza neste filme por que não há. Vou citar um SPOILER e recomendo que os que não viram o filme, pulem esta parte. O primeiro contato íntimo entre Jack e Ennis, lembram? Ali, no frio, após se embebedarem, na barraca... Pois bem. Aquilo, pra mim, foi algo absurdamente carnal e nada romântico e que em hipótese alguma pode ser o estopim para o começo de uma história de amor (FIM DO SPOILER). Na realidade, sinto que tudo o que se passa na película não pende ao amor, mas sim à paixão. Amor é você ir contra todos em busca da felicidade mútua, independente da época em que está. Amor não é ferir sentimentos alheios vivendo de mentiras e, pior, de traições. Onde diabos eu quero chegar? Simples: Brokeback Mountain, filme aclamado de Ang Lee, não é um romance. É um drama, frio, sobre dois homens que sentem atração um pelo outro e que tentam enfrentar isso numa sociedade machista antiga. Frio, gelado.

Uau, que massacre. Bom, mas nem tudo é errado no filme. A parte técnica e o trabalho das atrizes coadjuvantes chegam como sendo o ar fresco de que eu necessitava quando o assisti. Como estamos quase que o tempo todo em campo aberto, a iluminação natural contribui para um belo trabalho de fotografia. Além disso, Rodrigo Prieto (responsável também pela impressionante fotografia de 21 Gramas) utiliza as paisagens de relevo e planície para melhorar ainda mais seu genuíno trabalho. Apesar de não se encaixar bem no filme por ser muito melódica, gosto da composição sonora de Gustavo Santaolalla, mesmo utilizando, como sempre, os instrumentos de corda como base em suas trilhas. Aqui, vamos à segunda parte do meu pequeno massacre: comentário sobre o elenco. Heath Ledger, que Deus o tenha, vai bem, mas nada de estarrecedor e que merecesse alguma indicação em algum prêmio. É uma atuação que oscila entre o normal e o contido e me irritava o jeito que Ennis falava. Com Jake Gyllenhaal o caso é mais grave. Desde que vi o filme, disse e repito que trocaria fácil ele por outro ator (Ryan Gosling, por que não?). Ele não tem expressão e quase desaparece quando está em cena com sua esposa na trama, interpretada por Anne Hathaway. Ela e Michelle Williams são magníficas em papéis secundários e esbanjam talento, emoção e ousadia. Não vou nem finalizar meu texto com alguma conclusão coerente e oficial. Paro por aqui e só peço que se alguém quiser me matar depois disso, pelo menos me avisem antes de o fazê-lo!


Nota: 6,0


Informações sobre o filme, clique aqui.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Grey Gardens


A televisão. Um meio que atualmente vem apresentando os mais interessantes filmes feitos de forma exclusiva. Além dos chamados telefilmes, as séries e principalmente as minisséries vêm, também, evoluindo de maneira incrível. Mas quero pedir permissão e me ater aos filmes feitos para a TV, já que começo a perceber que todo ano aparece um mais lindo que outro e me pergunto: será que o Cinema no sentido físico está perdendo espaço? Deixaremos essa discussão para depois. Ano passado a HBO lançou algo que, pra mim, é uma pequena obra-prima: Recontagem. Este ano, mais uma vez, o canal lançou mão de uma obra de arte inquestionável e que durante toda a sua reprodução é um show visual, sonoro e textual: Grey Gardens.

Com uma montagem impecável, o telefilme conta a história da família de Edith (Jessica Lange), mas já nos primeiros momentos sabemos que o enfoque será sobre ela e sua filha, Edie (Drew Barrymore). É uma família que vive de aparências e durante todo o filme vemos a queda das excêntricas mãe e filha que sonharam, algum dia, em serem estrelas. Após a completa dissolução do ambiente familiar (Edith separa-se de seu marido, interpretado pelo vencedor do Emmy Ken Howard), Edith e Edie afundam-se num mar de desesperança dentro da mansão de praia da família, Grey Gardens. A volta do ar fresco de que as duas necessitavam, é contemplada com a chegada de dois cineastas que resolvem fazer um documentário sobre a vida delas. E este é um dos motivos pelo qual adjetivei a montagem como sendo impecável: além de a história não ser linear cronologicamente, por oras temos um filme dentro de outro, justamente quando seguimos as filmagens de tal material.

É importante observar três aspectos neste telefilme: a forma segundo a qual as personagens são expostas, o trabalho de elenco e a parte técnica. O diretor Michael Sucsy escolhe por mostrar cada uma das personagens principais de forma anatômica e fisiológica, ou seja, detalhando tanto suas aparências físicas quanto seus sentimentos mais profundos e ocultos. E para que essa idéia desse certo, um elenco afiado era necessário e ouso dizer que isso sobra no telefilme. Drew Barrymore e Jessica Lange não estão menos que extraordinárias, divinas. Mesmo sob uma pesada maquiagem durante alguns momentos, exteriorizam todo e qualquer desespero e pingo de esperança que ainda lhes restam. Duas das atuações mais impressionantes que pude ver na televisão desde Angels in America (e as brutas interpretações de Meryl Streep e Emma Thompson). Da metade para o fim da fita, entra em cena uma tal de Jeanne Tripplehorn – que já atua de forma impressionante na melhor série dramática atual, Big Love – interpretando Jacqueline Kennedy e, em uma cena, muda todo o curso da história e constrói uma coadjuvante muito inspirada.

Tecnicamente este telefilme de Sucsy é um deslumbre. Uma fotografia que tende ao perfeito, figurinos de acabamentos finos e uma maquiagem realista. Dois quesitos, porém, merecem destaque: trilha sonora e direção de arte. Aquela foi composta lindamente pela minha querida Rachel Portman e é uma surpresa a cada acorde. Fiquei em dúvida se falava sobre a cenografia aqui ou no parágrafo dedicado ao elenco. Afirmação estranha, não? Mas é a realidade. O design dado à casa de praia é tão complexo e interessante que sentimos que estamos diante de outro personagem. A direção de arte segue os atos do filme e declina da mesma forma que mãe e filha. Temos aqui um filme que não mostra a ascensão e queda de duas pessoas. Ele parte do princípio de que já estão num patamar bastante alto na sociedade e que tudo que um dia sobe, pode cair feio. E esta queda é mostrada a partir de uma mistura e posterior explosão de sentimentos da maneira mais genuína possível.


Nota: 9,5



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